Somos todos aprendizes. Como
encontrar a medida entre o autoritarismo e a displicência, entre a negligência
e a intolerância? Entre o egoísmo e a submissão. É difícil dizer que caminho
seguir, pois são vários, cada trilha leva a uma rota diferente e a lugares
diversos. No fim, cada um tem que encontrar o seu. De uma coisa eu sei: temos
medo, mesmo que não possamos admitir ou que não sejamos capazes de perceber
onde ele está, como lidar com ele e como tirar proveito disso aprendendo.
Alguns mais recolhidos outros
mais expansivos, uns sérios, outros engraçados, talvez religiosos e ateus,
altos, baixos, gordos, magros, brancos, pretos, azuis e amarelos. Mas em algo podemos
ser intolerantes: no respeito à diferença, na busca da convivência, mesmo que
esta pareça difícil e por vezes se mostre quase impossível. Só depende de cada
um olhar-se através do espelho. Não temos o direito de cobrar nada a ninguém
além de nós mesmos. Ninguém é obrigado a nos tolerar, a nos respeitar ou
compreender. Nós sempre somos obrigados a respeitar e a refletir. O exercício é
sempre meu, nunca de mim em fazer o outro exercitar o seu aprendizado.
Isso não significa que, por
vezes, necessitemos abrir mão da convivência em nome da sobrevivência. A
solidão também é importante; embora, algumas vezes provoque agudo incômodo. Há
momentos em que nos esquivamos de escolher e deixamos que outros façam por nós.
Será medo, coragem, cansaço?
Sempre que algo provoca desconforto
em nossas vidas, esse é o momento para parar e pensar: por que isso me atingiu
tanto? O que há em mim que rejeita isso? Por quê? Posso me perguntar ainda
sobre quando isso começou e se quero interromper esse ciclo ou alimentar a
repetição.
Se eu acredito que todos estejam
na contramão da vida, será que eles todos estão errados ou eu estou? Essa é a
pergunta errada. Devo me perguntar: desejo continuar na contramão de todos ou
tentar me unir a eles? É uma escolha entre estar só ou em conjunto; entre ceder
ou manter. Em todo o caso, é uma escolha solitária.
Todos creem ter razão. Ninguém
tem. O que há são pontos de vista diferentes e isso é bem humano. Somos
humanos. Mas não somos pedras. As pedras são moldadas pelos impactos que levam,
pelo vento que as corta, pelas águas que escorrem criando sulcos. Nós também.
Mas, além disso, podemos nos abrigar do vento ou nos expor a ele e enfrentá-lo,
viver fugindo dos impactos ou encarnar o saco de pancadas; podemos, ainda,
tomar uma brisa de vez em quando, gostar de apanhar vez ou outra, bater... cair
e levantar ou não levantar mais. Podemos ser senhores do nosso aprendizado, ou
apenas pedras. Bolas nas mãos de outros, escravos de nós mesmos. Alguns
escolhem servir, outros desejam ser servidos. Há também os solitários, os que
andam lado a lado, nem abaixo, nem acima.
Somos aprendizes, errantes,
senhores do nosso caminho, escravos dos outros e de nós mesmos. Somos apenas
humanos.
Texto: Karen Gomes Leite